Síndrome de Noé: causas, sintomas e tratamento
A síndrome de Noé é uma
doença que se caracteriza pela acumulação excessiva de animais. As pessoas que
sofrem desta síndrome podem chegar a acumular mais de cem animais em sua casa,
causando graves prejuízos em si mesmas, nos animais e nas condições da própria
casa. Além disso, as pessoas com essa patologia não são conscientes de que
sofrem da mesma, o que dificulta a sua abordagem.
A síndrome de Noé faz
referência à acumulação patológica de animais no
domicílio. É, por isso, uma doença de obsessão por
animais. A síndrome de Noé é um transtorno de acumulação no
qual existe uma acumulação patológica e obsessiva, pelo que se colecionam itens
em excesso, neste caso animais, e no qual a pessoa se sente incapaz de se desfazer
dos mesmos. Embora sejam diferentes, tem uma certa relação com a síndrome de Diógenes.
Este transtorno conceptualiza-se
não só como um problema de saúde mental, mas também como um problema de saúde
pública. Isso deve-se ao fato de não afetar unicamente a pessoa que sofre do
mesmo, mas também os próprios animais,
que não são mantidos em condições adequadas e, por sim, à deterioração que
ocorre no lar por deficiência extrema de higiene.
A degradação da casa onde existe acumulação excessiva de animais pode chegar a
afetar a saúde do resto dos vizinhos.
Os animais acumulados
maioritariamente, de acordo com os estudos, são os gatos. No entanto, mesmo
sendo que o gato é o anima mais comum na acumulação das pessoas com síndrome de
Noé, os cães apresentam níveis de acumulação semelhantes aos dos gatos. Além
disso, também podem ser implicados diversos outros animais e, em menor
porcentagem, animais exóticos e selvagens.
Este síndrome apresenta
uma etiologia variada, pelo que as causas da síndrome de Noé são diversas. Mesmo que esta patologia tenha sido
identificada em pessoas com sentimentos de solidão intensos, isolamento extremo
e ausência de laços sociais e/ou familiares, é comum a coexistência desta
síndrome com outros transtornos mentais que poderiam explicar esse comportamento de acumulação:
·
Transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC): nesse transtorno, são comuns os rituais repetitivos para
compensar a ansiedade sofrida. O comportamento de acumulação poderia ser uma
das compulsões ou rituais próprios da pessoa que apresenta transtorno
obsessivo-compulsivo.
·
Transtornos psicóticos: neste
tipo de transtornos, existe uma alteração da percepção da realidade, pelo que
as pessoas podem ser incapazes de advertir que os animais acumulados se
encontram em condições nefastas, assim como o fato de se viver em uma situação
de insalubridade.
·
Transtornos afetivos: as
pessoas que apresentam dificuldades extremas para socializar e estabelecer
vínculos afetivos e sociais podem procurar compensar este isolamento com a
acumulação de animais.
·
Perdas ou términos traumáticos: perante
eventos de vida stressantes e traumáticos, algumas pessoas podem projetar a sua
necessidade de serem cuidadas através da adoção e acumulação excessiva de
animais, os quais acreditam estar salvando e cuidando.
·
Transtornos de abuso de álcool e/ou outras
substâncias: este comportamento patológico também foi identificado em
pessoas com abuso de álcool e outras substâncias com grande deterioração
cognitiva, pelo que apresentam condutas impulsivas que não são baseadas na
racionalidade.
·
Transtorno bipolar: as
pessoas com transtorno bipolar apresentam fases de mania que se caracterizam
pela presença de condutas impulsivas, arriscadas e irresponsáveis. Na fase
maníaca, é possível que um dos comportamentos imprudentes desenvolvidos
implique a acumulação de animais.
·
Doenças relacionadas com a idade como a
demência ou o Alzheimer: neste tipo de doenças, costuma existir uma
deterioração das capacidades cognitivas, uma alteração da personalidade e da
percepção da realidade. Esta sintomatologia pode propiciar a acumulação
patológica de animais.
Atualmente, a síndrome de Noé não é reconhecida no manual
diagnóstico de transtornos mentais. No entanto, as investigações sobre
diferentes casos de acumulação excessiva de animais fizeram com que fosse
possível definir uma série de sintomas que permitem a identificação das pessoas
que sofrem dessa patologia. Esses são os sintomas da
síndrome de Noé mais comuns:
·
Existência de uma acumulação excessiva e patológica de animais por parte
de uma pessoa.
·
Incapacidade para cuidar adequadamente dos animais e cobrir as
necessidades básicas dos mesmos.
·
Condições anti-higiénicas e de insalubridade em
casa da pessoa que implicam um risco para ela mesma e, em alguns casos, para os
vizinhos.
·
A negociação do problema é outro
dos sintomas de síndrome de Noé. A pessoa é incapaz de notar o estado no qual
os animais se encontram (desnutrição, doenças e até mesmo morte) assim como da
própria casa.
·
A pessoa vê-se a ela mesma como salvadora dos animais,
devido à alteração e distorção da percepção que coexiste com essa síndrome.
·
Presença de comportamentos agressivos se alguém tentar confrontar a situação ou entrar na casa em
questão.
·
Costuma acumular uma única espécie, mas também foram reportados casos nos
quais convivia mais de um tipo de animal.
·
Na maioria dos casos, os animais são recolhidos da rua.
·
Os casos de síndrome de Noé ou doença de obsessão pelos animais
costumam ser denunciados pelos vizinhos ou serviços sociais.
·
Em alguns casos, a pessoa com esta patologia tem menores ou
pessoas idosas a seu cargo, das quais também não é capaz de cuidar.
Como tratar a Síndrome
de Noé? Normalmente, perante o diagnóstico de um caso de síndrome de Noé ou
doença de obsessão por animais, intervém-se legalmente com a
retirada de animais. No entanto, em muitos casos não é
oferecida atenção psicológica à pessoa que sofre desse problema de acumulação.
Atualmente, não existe um protocolo de intervenção psicológica perante esse
perfil de patologia, contudo, foram descritas algumas indicações para o
tratamento da síndrome de Noé:
·
Como foi mencionado anteriormente, a síndrome de Noé costuma
coexistir e ser consequência de outra patologia mental. Por isso, é necessária
uma avaliação exaustiva do caso para definir uma
intervenção adaptada às necessidades e problemas específicos da pessoa.
·
No início, é necessária a psico-educação
ou explicação da síndrome que afeta a pessoa, fomentando a
consciência sobre ele, o entendimento do mesmo e das suas causas e sintomas.
·
Pode ser aplicada terapia cognitivo-comportamental na
qual se usam técnicas de exposição com
prevenção de resposta (poder expôr-se aos animais sem a necessidade de os acumular),
treino em técnicas de respiração e relaxamento para a exposição e restruturação cognitiva, pela qual se geram pensamentos e
crenças mais racionais e objetivas sobre a realidade.
·
Outro foco útil é o que é centrado na motivação, pela qual se
estimula a organização e restruturação do
lar e rotinas diárias, fomentando a ordem e a estabilidade
quotidianas.
·
Também é necessária a educação em hábitos saudáveis, de autocuidado e de higiene para
prevenir recaídas e gerar um estilo de vida benéfico para a pessoa.
·
Treino em habilidades sociais para que a pessoa possa começar a
socializar com gente e estabelecer laços sociais que previnam o isolamento da
pessoa e a necessidade de busca de afeto na acumulação de animais. As técnicas
de fomento da autoestima e o autoconceito também
são úteis para fomentar a eficácia do treinamento em habilidades sociais,
propiciando ainda segurança em ambientes de socialização.
·
Outros modelos destacam as semelhanças entre os comportamentos
aditivos e a síndrome de Noé, pelo que será necessário trabalhar o controle de impulsos através da técnica de
tolerância ao mal-estar da terapia dialéctico-comportamental.
·
Além de tudo o que foi mencionado, ao coexistir normalmente com
outros transtornos mentais e ser consequência dos mesmos, a síndrome de Noé
exige uma intervenção psicológica específica e dirigida à patologia mental que
a pessoa apresenta.
Este artigo é meramente
informativo.
Texto de Irene Alabau.
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