A ansiedade esconde diversos medos.


A ansiedade esconde diversos medos. 


Podemos perceber a ansiedade em nós nos mais simples movimentos do dia-a-dia, como por exemplo na hora de comer. Mastigamos pensando na próxima garfada, comemos apressadamente, como se alguém fosse retirar o prato dali. Na realidade, é uma pressa por algo que não existe. Podemos fazer nossas tarefas rapidamente, mas sem ansiedade. O problema é que ficamos o tempo todo pensando no próximo passo. 

Podemos, ainda, detectar nossa ansiedade ao falar. Ela está presente quando falamos muito, quando falamos demais, atropelando as palavras ou gaguejando. Quando alguém diz algo que desperta em nossa mente alguma recordação, nos identificamos e ficamos ansiosos para falar, para mostrar que somos iguais, que também tivemos esta ou aquela experiência. 

A ansiedade também se faz notar quando não há o que fazer e ficamos inquietos. Começamos a mexer os pés, balançar as pernas, tamborilar os dedos sobre as superfícies, mexer em canetas, moedas, no cabelo, orelha, rosto, coçamos o que não esta coçando, e por aí vai. 

Tudo isso é um processo de fuga do presente. Não conseguimos ficar parados, quietos, porque estamos evitando olhar para nós mesmos, conviver conosco. Neste caso, parar, para nós, simboliza uma morte. E tememos a morte. Temos necessidade de estar sempre fazendo coisas. E, quando não há o que fazer, inventamos. Quando não há problemas que possamos resolver, criamo-los. Enfim, precisamos ter sempre mil coisas para fazer: compromissos, problemas, diversões. 

Outro exemplo de ansiedade latente é quando não conseguimos deixar o carro parado, silencioso, diante de um semáforo sinalizando que está fechado para o motorista. 

Ainda, podemos notar a ansiedade em certos hábitos, como fumar demais, roer as unhas, arrancar a pele do dedo, olhar o relógio repetidamente, não ficar parado nos pontos de ônibus, plataformas de trem ou hall de elevadores. Também a identificamos na ânsia de conhecer pessoas, nas entrevistas de emprego, na preocupação de ir para um lugar bom após a morte, e mesmo na expectativa das condições meteorológicas, ou seja, querer saber se vai chover, se vai ter sol, etc. 

Quando vemos ou ouvimos alguma coisa, a mente traz à tona várias de nossas antigas experiências, quando não todas, e relaciona-as com o assunto em questão. Durante uma conversa, por exemplo, à medida que nos mencionam certos fatos, o pensamento nos direciona para situações do passado. Por esta razão, vamos ficando ansiosos verbalizar nossas experiências. É a ansiedade de sermos aceitos, é a identificação atuando em nós. 

Estamos condicionados a agir desta forma, ou seja, de forma ansiosa. Possivelmente, algum medo gerou este comportamento ansioso, em algum aspecto. E este comportamento vai nos contagiando, vamos transferindo a experiência passada para outras coisas, para outras situações da vida. E então é hora de refletir, de analisar quais são os medos que se escondem por trás de cada manifestação de ansiedade. 

Geralmente, os sintomas da ansiedade são: palpitações, dores nas costas, euforia, agitação, tensão, respirações curtas ou ofegantes, sudorese, insônia, frio na barriga, aperto no peito, incapacidade de relaxar antes de dormir, entre outros. 

A ansiedade pode ser desencadeada só de pensar no futuro, de fantasiar o futuro, de temer que acontecimentos frustrantes do passado voltem a ocorrer, de desejar situações utopicamente felizes, fantásticas, maravilhosas, distantes da realidade. 

Existe em nós uma convicção natural de que, se analisarmos o futuro em todas as suas possibilidades de erro, de dor e sofrimento, poderemos evitar o indesejável, poderemos controlar o futuro. Acreditamos que podemos, com isso, controlar a vida. Assim, ficamos martelando situações imaginárias, na ânsia de evitar o que não existe, o que não está acontecendo, o que não aconteceu, e que talvez nunca venha a acontecer. E, por mais imaginárias que sejam essas situações, muitas vezes damos como certas algumas dessas fantasias trágicas. 

Ao criarmos condições artificiais para ficarmos felizes, para ficarmos em paz, geramos uma série de expectativas, uma ansiedade para que nosso desejo logo se concretize e nos traga rapidamente essa felicidade e essa paz que idealizamos. Devemos ser felizes agora tanto quanto possível. Devemos estar em paz agora tanto quanto possível. 

Toda expectativa gera ansiedade, toda expectativa é fuga da realidade, do presente, é falta de fé e de confiança. É falta de se entregar à vida como ela se apresenta. Ao tentarmos repetir prazeres, evitar dores e experiências passadas, ao invés de aproveitar as novas experiências que nos podem acontecer, acabamos por nos imobilizar. 

As mais simples tarefas se tornam complicadas, se transformam pontos de ansiedade. Ansiedade de provar algo aos outros, de parecer aquilo que não somos, por uma questão primária de orgulho e vaidade. 

Até mesmo situações de alegria, como festas e comemorações são transformadas em sofrimento, em ansiedade, em crise de nervos, devido às nossas expectativas. Fazemos comida em excesso para evitar a possibilidade catastrófica, para nós, da falta de comida, para depois termos que jogar todo o restante fora, desperdiçando-a. Ficamos aflitos com a expectativa da chegada dos convidados. Enfim, uma festa, que, a princípio, deveria ser uma oportunidade de lazer, acaba se tornando uma doença. 

Devemos parar e relaxar ao sentirmos que a ansiedade está prestes a nos dominar. Devemos impedi-la de se instaurar em nós. Se ela em nada nos ajudou até agora, não há razão para querermos alimentá-la. 

Acreditamos que o fato de nos preocuparmos com algo significa ser responsável. Que pai é aquele que não se preocupa com o desemprego, com a falta de dinheiro ou de comida? Que mãe é aquela que não se preocupa com os filhos, com a família? É natural que todos se preocupem, que fiquem momentaneamente ansiosos. Este é o padrão, este é o condicionamento. 

Depois de um sem número de preocupações descabidas, de loucos momentos de ansiedade, o “herói” se acha merecedor de reconhecimento por tudo o que fez, por sua dedicação, seu amor. Com isso, soma à sua coleção uma nova expectativa, a expectativa do reconhecimento. Só que o “herói” se esquece que ninguém lhe pediu para ficar preocupado, ansioso, muito pelo contrário. Então, por não obter o reconhecimento esperado, ele se frustra e geralmente assume o papel de vítima. 

Ficamos na expectativa, na esperança de que os outros venham a preencher as idéias que criamos. Fazemos planos, nos esquecemos do real, pois nos é conveniente. Mas ninguém tem a obrigação de atender às nossas expectativas, de realizar as nossas ilusões e fantasias. Ninguém tem a obrigação de ser como idealizamos. E, como isso não acontece, a frustração é inevitável. Contrariados, colocamo-nos na posição de vítima, declaramo-nos decepcionados com aqueles que não nos fizeram a vontade. Em nossa loucura, não esperávamos essa atitude deles. 
Precisamos perceber, ainda, como reagimos ao querermos nos livrar de uma situação ou de uma conversa com alguém que nos desagrada ou quando estamos atrasados para dar-lhe atenção. Nossos movimentos se tornam inquietos, agitamos as mãos e os pés, mexemos nas orelhas, no cabelo, no botão da camisa, na gravata, na fitinha da blusa, coçamos a cabeça. Precisamos perceber cada um de nossos movimentos, não porque lemos sobre isso ou porque nos disseram, mas porque esta é uma tarefa que deve partir de nós mesmos. Precisamos observar e perceber como a ansiedade atua no nosso centro motor, por que fazemos coisas desnecessárias, sem sentido, por que estamos fugindo. Precisamos perceber o que nos deixa sem jeito, incomodados, envergonhados ou constrangidos, para então conseguirmos cortar a conversa ou modificar a situação, sem problemas. Essas reações são sinais de um conflito interno, são reflexos da ansiedade. Talvez tenhamos medo de desagradar, de ser indelicado, de magoar; talvez estejamos vivendo um grande dilema, preocupados com nós mesmos, com a nossa auto-imagem, mesmo sem perceber. 



Paz Profunda,

Fabio Ferreira Balota
FUNDASAW - São Paulo
fabio_balota@fundasaw.org.br

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